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Alunos surdos também podem aprender ciência

15/03/2016

Quem já estudou com um colega surdo ou tem um aluno com essa deficiência, já deve ter percebido que é preciso um cuidado especial para que ele consiga compreender o conteúdo e participar das aulas. A linguagem é o principal obstáculo – além de não escutar, os surdos têm muita dificuldade para ler e escrever. Afinal, conseguimos falar as primeiras palavras ao escutar as pessoas, e depois aprendemos a escrevê-las a partir de seus sons. Se a linguagem já requer uma grande atenção, como os alunos surdos fazem para aprender ciência?

De 2010 a 2015 a professora Ana Claudia Flores organizou as atividades do Espaço de Ciências do 1º segmento do Ensino Fundamental (EspCie1) no Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES), no Rio de Janeiro (RJ). Ela trabalhou com alunos do 5º ano com surdez severa ou profunda, que se comunicavam por meio de Libras (Língua Brasileira de Sinais). Não teve aulas teóricas, apenas experimentais.

“Colocamos um tema e, a partir dos questionamentos, levamos os alunos a pesquisar sobre suas dúvidas e interesses. Nós apenas disponibilizamos o material, mas eram eles quem investigavam”, explica Ana Claudia. No final, eles faziam uma apresentação para outras turmas do INES. Também eram realizadas atividades que envolviam a observação, a colaboração, a interpretação de resultados, entre outras habilidades. “O trabalho foi além das expectativas. Pensávamos em alcançar o conteúdo daquele ano escolar, mas os alunos ultrapassaram esse conhecimento”, conta a professora.

Para Ana Claudia, esse tipo de aprendizagem, chamada de aprendizagem ativa, é indicada para qualquer criança, não apenas as surdas. “É essencial que a criança possa olhar, questionar, não ter respostas prontas. Os professores têm que ver o que elas gostam de fazer, o que querem descobrir.” Além disso, os estudantes visitaram lugares como museus, planetários e parques, o que a professora considera muito importante para fazer conexões com o que viram em sala de aula. Saiba mais sobre a experiência com os alunos do 5º ano do INES neste artigo publicado por Ana Claudia e mais duas professoras (começa na página 35).

Projeto Surdos

A iniciativa do EspCie1 surgiu no Projeto Surdos, do Instituto de Bioquímica Médica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Desde 2005 o projeto oferece cursos na área de biociências para alunos surdos do Ensino Médio, que saibam Libras ou não. Os cursos também são totalmente práticos e incluem um grupo de alunos ouvintes, que participam igualmente com os colegas surdos. “Os alunos utilizam o método científico para verificar suas hipóteses, aprendem a dialogar entre eles e aprendem vendo, entendendo, com um enorme aumento da autoestima ao verificar que sozinhos chegaram à resposta, sendo surdos ou ouvintes”, diz a professora Vivian Rumjanek, uma das responsáveis pelo projeto.

Não é fácil encontrar materiais adaptados para surdos, e muito menos intérpretes especializados em ciência. Por isso, uma das iniciativas do projeto é criar materiais científicos voltados a esse público. Um deles é o Glossário Científico em Libras: são vídeos com a tradução e a explicação de termos científicos. Vivian conta que a ideia surgiu ao perceber que os próprios alunos estavam desenvolvendo sinais para as palavras que não existiam em Libras.

E no caso das escolas regulares, o que os professores podem fazer além de organizar atividades práticas? Se a criança tiver surdez profunda, é necessária a presença de um intérprete. “Não creio que seria possível o professor falar e sinalizar ao mesmo tempo, prejudicaria a clareza de uma das línguas”, explica Vivian. Ana Claudia recomenda que o professor e o intérprete sempre conversem sobre os assuntos que serão tratados, para que o intérprete possa se especializar e buscar os sinais apropriados para cada termo. Para estudantes com um pouco de audição, o professor deve tomar o cuidado de falar bem articulado e de frente para os alunos.

2 Comentários

  1. Avatar

    Belíssimo projeto. A surdez não é um limiti para o conhecimento. Parabéns professora!

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  2. Avatar

    Estive presente nesse espaço,acompanhando minha turma em 2010. Realmente a proposta de ensino de ciências da professora Ana Claudia Flores ,estimula muito os alunos e desperta neles, o interesse em aprender. Parabéns para as professoras, Ana Cláudia Flores e Vivian Rumjanek.

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