O desafio de escrever uma carta ao próprio corpo, em Classificar, deixou a professora Luciene Lemes Alves preocupada. Ao ler as cartinhas escritas pelos alunos dos 4º e 5º anos da EMEF Professora Suzana Moraes Balen, de Foz do Iguaçu (PR), Luciene percebeu que muitos tinham opiniões bastante negativas sobre si mesmos. Alguns disseram que não gostavam do seu corpo porque estavam acima do peso ou por causa de sua cor, entre outros aspectos. Diante desse desafio, Luciene buscou a ajuda de mais três profissionais da escola para iniciar um projeto que contribuísse para resgatar a autoestima e a autovalorização das crianças.
Uma parte da questão vem dos próprios comentários que os alunos fazem entre si. “Até eles escreverem essas cartas, eu não tinha percebido que esse problema era tão profundo”, diz a professora. Também havia crianças que não se achavam bonitas por não serem como as pessoas que aparecem nos anúncios publicitários. A primeira atividade que Luciene organizou foi justamente para mostrar que a noção de beleza que a maioria das propagandas transmite não é a real. Ela levou para a sala anúncios que ressaltavam a diversidade das pessoas e mostravam que cada um tem sua beleza. Os alunos gostaram tanto, que compartilharam outras propagandas que encontraram no grupo da turma no Facebook.
Com o auxílio da psicóloga da escola, Luciene chamou os pais para conversar individualmente sobre o projeto. “Os pais apoiaram e também ficaram preocupados, porque não sabiam disso”, conta. Depois, os familiares se juntaram para participar de uma dinâmica, parecida com a primeira dinâmica feita com os alunos: eles se olharam em frente a um espelho e disseram tudo o que viam e achavam de seu corpo; em seguida, cada estudante escreveu um elogio para um colega (no caso dos pais, era para os filhos) e leu em voz alta para ele. “Escrever foi fácil, mas ler foi difícil. Eles não têm o hábito de elogiar e falar coisas boas uns para os outros”, comenta Luciene. As duas atividades foram intercaladas com muita conversa.
Esse é só o começo, já que ainda haverá mais dinâmicas com as crianças – as próximas contarão com a participação da assistente social da escola. A nutricionista também vai conversar com a garotada sobre alimentação saudável e dieta balanceada, uma preocupação que alguns alunos compartilharam em suas cartas. E a psicóloga se colocou à disposição para atender os pais sempre que precisarem. Luciene já percebeu que, após as primeiras atividades, os estudantes estão se soltando mais e parecem mais leves e felizes. “Havia crianças mais isoladas que agora estão procurando entrar nos grupos, interagir mais”, afirma. Veja algumas das cartas escritas pelos alunos nesta etapa.
As turmas completaram todos os desafios de Classificar. Além disso, fizeram exercícios de classificação com embalagens recicláveis, blocos lógicos, tampinhas, plantas, animais, palavras e textos. No vídeo abaixo, os estudantes explicam os critérios objetivos e subjetivos utilizados para classificar embalagens de leite e blocos lógicos. Confira o relato completo da professora sobre o percurso na seção “Fale, professor(a)!”.
Luciene também enviou relatos dos alunos sobre as dinâmicas. Veja alguns deles:
“A psicóloga e a assistente social fizeram com que nós enxergássemos nosso corpo de um jeito mais alegre e feliz. Elas trouxeram uma caixa e disseram que dentro dessa caixa havia uma coisa muito valiosa. Todo mundo pensou que havia várias coisas na caixa, mas ninguém imaginava que seria um espelho. Eu me perguntei: ‘pra que um espelho?’. Depois eu descobri que aquele espelho era para que víssemos algo muito precioso: nós mesmos!” (Cassieli)
“No trabalho de ontem, a psicóloga e a assistente social disseram que a gente não pode se deixar levar pela opinião dos outros, que não gostam de nossas roupas e aparência. Que a gente não tem que fazer a vontade das outras pessoas, e sim ser o que é, e fazer o que é bom pra nós.” (Isabele)
“Eu aprendi que devemos valorizar o nosso corpo porque ele é muito precioso. A dinâmica foi muito legal!” (Nicolas)