Existe uma lenda muito conhecida no Norte do país que diz que nas noites de Festa Junina um boto-cor-de-rosa se transforma em um homem bem bonito e elegante, que vai para as festas em busca de uma mulher solteira para namorar no rio. Por causa dessa lenda, virou costume na região falar que, quando não se sabe quem é o pai de uma criança, ela é filha do boto. A presença do boto-cor-de-rosa na cultura popular local é tão forte quanto a relação desse animal com a Amazônia: ele é um dos símbolos da região, porque é encontrado somente em rios amazônicos e na bacia do Rio Orinoco, espalhando-se por seis países da América do Sul.
O boto-cor-de-rosa, também chamado de boto-vermelho, é uma espécie de golfinho de água doce, mas tem algumas diferenças em relação aos seus parentes do mar. Uma delas é sua própria coloração, que é cinza no início da vida e fica rosa na fase adulta. O boto-cor-de-rosa também tem um corpo bastante flexível para se desviar de plantas e troncos que ficam submersos nos rios com igapós (matas que ficam próximas dos rios e são frequentemente inundadas). Ele é o maior golfinho de água doce do mundo, podendo chegar a 2,5 metros de comprimento e mais de 160 kg no caso dos machos, que são maiores que as fêmeas.
Assim como os golfinhos que vivem no mar, os botos-cor-de-rosa conseguem se guiar pelos rios por meio da ecolocalização. Eles emitem sons bem agudos, em frequências que os humanos não conseguem ouvir, e detectam o eco desse som se ele atinge um obstáculo ou outro animal na água. Isso é de grande ajuda para que os botos-cor-de-rosa, com seus olhinhos tão pequenos, se locomovam nas águas escuras dos rios e capturem suas presas – por mais que esses bichos sejam dóceis com os humanos, eles são predadores dos rios e se alimentam de peixes e outros animais aquáticos.
Mesmo sendo um símbolo da Amazônia, o boto-cor-de-rosa está na lista de bichos ameaçados de extinção, principalmente por causa de pesca ilegal. Há várias iniciativas no Brasil que trabalham para protegê-lo e informar a população da importância do boto para os rios. As atividades turísticas com botos também passaram a seguir regras determinadas pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) para que o bem-estar dos animais ficasse em primeiro lugar e para que elas servissem como um meio de conscientização dos turistas. O biólogo Vinícius Ferreira, apresentador do canal do YouTube Papo de Biólogo, visitou um dos locais que promovem essa atividade e explicou algumas regras do Ibama, além de contar curiosidades sobre os botos-cor-de-rosa. Confira:
Curiosidade: Os botos-cor-de-rosa também ajudam crianças e adolescentes com deficiências físicas e mentais em tratamentos médicos. A bototerapia é uma atividade regulamentada pelo Ibama que utiliza a interação com os bichos para complementar tratamentos como fisioterapia e psicoterapia. Saiba mais sobre essa atividade no vídeo a seguir, em que o biólogo Richard Rasmussen conhece um centro de bototerapia em Iranduba (AM) em um episódio do programa “Mundo Selvagem”, do canal de TV Nat Geo Wild (começa a partir de 9:30):
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