Uma experiência incrível de observação é procurar onde estão os rios invisíveis da cidade – aqueles que foram canalizados ou soterrados (saiba mais aqui). Só em São Paulo (SP) há cerca de 300 deles, formando 3 mil quilômetros de cursos de água debaixo do asfalto. Tente imaginar como seria a cidade se esses rios e córregos estivessem como antes! O arquiteto social José Bueno ficou surpreso quando soube disso em uma conversa com seu amigo, o geógrafo Luiz de Campos Júnior. Foi daí que os dois tiveram a ideia de criar uma iniciativa que promove expedições para encontrar rios escondidos pela cidade, chamada Rios e Ruas.
Eles mesmos foram os primeiros a testar essa experiência. “Marcamos um passeio de bike no Butantã e em três minutos encontramos uma nascente”, conta José. Desde 2010 os amigos proporcionam essa descoberta para pessoas de todas as idades nas expedições que organizam. José explica que um dos motivos que fazem com que os rios estejam nessa situação é justamente porque as pessoas não sabem que eles existem. “Os rios estão cobertos porque estamos de olhos fechados. Como vamos proteger algo que a gente não vê?”, questiona. “Se você vê, você limpa, cobra, exige mudanças.”
Além de saber onde estão os rios, é importante que as pessoas criem um vínculo de afeto com eles, cuidando e tornando-os parte de sua história. “Queremos que as pessoas voltem a conhecer a cidade, encontrem outras pessoas, pensem no lugar em que vivem e em como elas querem deixá-lo para as próximas gerações.” José diz que todos se emocionam ao encontrar os rios e logo pensam no que podem fazer para ajudar a recuperá-los.
Uma dessas pessoas foi Gustavo Prudente, que acabou escrevendo um livro para crianças inspirado nessa experiência. “O menino que rio” será lançado em 9 de março e conta a história de um garoto que descobre um rio soterrado e faz de tudo para recuperá-lo. E esse não é um sonho impossível de ser alcançado! O arquiteto ressalta que muitas grandes cidades no mundo já conseguiram trazer rios subterrâneos de volta, e isso só traz benefícios para todo mundo.
Se você ficou com vontade de explorar sua cidade em busca dos rios, a chave é observar usando diferentes sentidos. “Você precisa de equipamentos de altíssima tecnologia: seus olhos, ouvidos, nariz e tato”, brinca José. “Só não recomendamos beber a água porque pode estar contaminada.” Uma coisa bem bacana é procurar na internet, na biblioteca ou na prefeitura um mapa hidrográfico, que mostra onde estão todos os rios. Mas há vários sinais pela cidade que podem indicar que um rio está por perto. Se você ouve muitos pássaros, veja se eles estão em um local com vegetação – é bastante comum que tenha água nesses lugares. As curvas das ruas (que podem seguir as curvas de um rio), uma temperatura mais fresca, correntes de água na guia da calçada… Tudo pode ser uma pista!
Quer tornar a experiência ainda mais divertida? José recomenda reunir um grupo de amigos, levar lanches e sucos e terminar com um piquenique. Fazer esse passeio de bicicleta também é uma boa alternativa. Saiba mais sobre a iniciativa Rios e Ruas em sua página no Facebook.
Se você mora em São Paulo, conheça os audioguias feitos pela iniciativa Cidade Azul em parceria com Rios e Ruas. Você pode seguir os trajetos indicados para encontrar os rios e ouvir informações e orientações enquanto caminha. Dá para acessá-los neste site.
Créditos da foto em destaque: Rios e Ruas
