Um lugar extremamente frio, escuro, com uma pressão que faria os pulmões de uma pessoa pararem de funcionar em um instante… Parece um lugar impossível de se viver – ou que apenas extremófilos conseguiriam suportar. Mas existem inúmeros seres vivos morando por lá, de micróbios a peixes. Estamos falando das profundezas do oceano, mais de 200 metros abaixo da superfície. É uma área que corresponde a mais de 90% do oceano, mas da qual não sabemos quase nada.
Para explorar essa região cheia de mistérios, é preciso contar com veículos e equipamentos submarinos muito caros, que aguentam altos níveis de pressão. Afinal, 200 metros é só o comecinho da jornada: o ponto mais profundo do oceano, a depressão Challenger, fica a 11 km da superfície, em uma região chamada Fossa das Marianas, no Oceano Pacífico. Apenas três pessoas já se aventuraram nesse lugar: o oceanógrafo e engenheiro suíço Jacques Piccard e o tenente da Marinha dos Estados Unidos Donald Walsh, que ficaram por 20 minutos no local em 1960; e o cineasta norte-americano James Cameron, responsável por filmes como “Titanic” (1997) e “Avatar” (2009), que durante seis horas gravou imagens para um documentário e coletou amostras do local para pesquisadores em 2012.
E que tipos de animais sobrevivem nas condições difíceis do mar profundo? Uma variedade gigante! Acredita-se que há mais de 1 milhão de espécies (das quais não conhecemos nem a metade), com as características mais diferentes e curiosas que podemos imaginar: dentes parecidos com espinhos longos e pontiagudos, órgãos que emitem luz, olhos enormes, corpos transparentes, formatos inusitados. Esses e outros aspectos são essenciais para que espécies de peixes, crustáceos, águas-vivas, corais e outros animais se adaptem a um ambiente tão inóspito. Talvez você já tenha visto um desses animais no filme “Procurando Nemo” (2003). É o peixe-diabo-negro, que persegue os peixinhos Marlin e Dory com seus dentes longos e uma antena que parece uma lanterna. Veja abaixo um vídeo do peixe-diabo-negro no oceano:
A antena que emite luz na ponta parece ser algo raro, mas, na verdade, há muitos animais das profundezas do oceano que conseguem emitir luz por meio de um fenômeno chamado bioluminescência (o mesmo usado pelos vaga-lumes). É uma forma de ajudar a encontrar presas no meio da escuridão – a partir de 1 km de profundidade, não há mais nenhum vestígio da luz do Sol. Justamente por não haver luz, quase não há algas nessas regiões, já que a maioria depende de luz para fazer a fotossíntese e sobreviver. Por isso, muitos animais são carnívoros e têm bocas e dentes muito grandes para pegar suas presas. Outros se alimentam de restos de algas e animais mortos que afundam das partes superiores do mar.
É muito comum compararmos os animais do oceano profundo com monstros, já que suas aparências são bem esquisitas – algumas chegam a ser assustadoras! Porém, é uma percepção que precisa ser mudada. Em um artigo no site norte-americano The Conversation, a professora da Universidade do Sul da Austrália Carla Litchfield afirma que devemos ter o mesmo cuidado com esses animais que o que temos por bichos que consideramos bonitos. Eles também precisam de atenção e proteção e são essenciais para manter todo um ecossistema que está sofrendo com poluição e pesca ilegal, e que é tão importante para a vida na Terra – dentre outras funções, a vida marinha ajuda a regular o gás carbônico e o metano, dois dos grandes responsáveis pelo efeito estufa. Veja algumas espécies das profundezas do oceano na galeria abaixo.
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